Desporto: sabe o que é o ácido lático?

Desporto
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Quem pratica desportos intensos, sabe bem o que é o ácido lático. Conheça que tipo de alterações esta substância provoca no organismo e como é eliminada.

O processo de utilização da glucose na fibra muscular para a produção de energia (ATP) está dividido em duas fases, uma rápida, que se traduz por um saldo de apenas duas moléculas de ATP e que produz duas moléculas de ácido pirúvico, e uma outra mais lenta que decorre já dentro da mitocôndria (porque a entrada dessas moléculas de ácido pirúvico é mais lenta do que a sua produção), na presença obrigatória de oxigénio, e produz uma determinada quantidade de moléculas de ATP.

O primeiro passo constitui um modo de disponibilização rápida de energia em esforços de elevada intensidade, mas é autolimitado, uma vez que a acumulação de ácido pirúvico é inibidora do processo de degradação da glucose. Quando acontece uma situação destas, e na necessidade de manter a produção de energia, as moléculas de ácido pirúvico que "aguardam" entrada para a mitocôndria são convertidas numa outra molécula que consegue ser eliminada para fora da fibra muscular, o ácido lático.

A produção de ácido lático é uma consequência natural do metabolismo energético durante a realização de esforços intensos. Constitui, assim, uma via de manutenção da utilização da glucose em esforços de alta intensidade e, ao mesmo tempo, uma via de eliminação das valências ácidas produzidas pela contração muscular intensa.

 

Alterações provocadas pelo ácido lático

A passagem do ácido lático da fibra muscular para a corrente sanguínea vai provocar alterações no equilíbrio ácido-base, inicialmente compensadas por mecanismos tampão fisiológicos, mas que com a sua acumulação acabam por ser suplantados, acidificando o sangue para valores fora do normal. Esta acidose vai provocar um conjunto de sinais e de sintomas, como, por exemplo:

  • Queda da pressão arterial
  • Tonturas
  • Náuseas
  • Vómitos
  • Incontinência de esfíncteres com perdas involuntárias de urina ou fezes

Parte do treino dos atletas de alta competição de modalidades com elevada produção de ácido lático passa pelo aumento da tolerância física e psíquica aos seus efeitos nocivos.

 

Eliminação do ácido lático do organismo

Quando o esforço intenso termina, cessa a produção de ácido lático, cujos valores demoram cerca de 20 a 30 minutos a reduzir para metade e assim sucessivamente, tornando o processo passivo de eliminação demasiado lento. No entanto, existe um tipo de fibras musculares que reutiliza o ácido lático para o reconverter em ácido pirúvico e assim disponibilizar substrato para a produção de energia, desde que a intensidade do esforço seja relativamente baixa (30 a 35% no máximo). Este é um processo ativo mais eficiente e eficaz de eliminação do ácido lático após a realização de esforços intensos.

 

Fadiga e dores musculares

A fadiga muscular é um processo multifatorial, que tem a ver, entre outros, com deficits na produção energética, alterações que ocorrem nas fibrilhas da contração muscular, alterações do equilíbrio ácido-base na fibra muscular e não propriamente com a acumulação de ácido lático. Naturalmente, quanto mais intenso e prolongado o exercício maior a probabilidade de fadiga e a medição dos valores do ácido lático pode servir para a sua monitorização.

Já a dor muscular durante e após o esforço está relacionada com processos de destruição e inflamação da fibra muscular e não é causada pelo ácido lático. As cãibras musculares são originadas por descargas sucessivas da terminação nervosa que ativa a fibra muscular, provocando uma contração persistente e dolorosa, e cuja causa ainda não conseguiu ser identificada corretamente.

 

Sabia que...

O ácido pirúvico desempenha um papel importante papel na fermentação alcoólica e no metabolismo das proteínas e dos glúcidos. A percentagem de ácido pirúvico no organismo aumenta no metabolismo anaeróbio - como, por exemplo, quando é efetuado um esforço físico.

Publicado a 16/02/2015