O que é?

A úlcera gástrica, ou úlcera no estômago, é uma lesão que ocorre no revestimento (mucosa) do estômago. Podem também aparecer no duodeno ou no esófago.

É um problema bastante comum, sendo uma das causas mais habituais o consumo de anti-inflamatórios. De facto, o ácido acetilsalicílico e outros anti-inflamatórios não esteroides encontram-se entre os fármacos mais prescritos em todo o mundo. Em Portugal, cerca de 800 mil pessoas tomam estes medicamentos numa base diária. Estima-se que o risco de complicações gastrintestinais associado ao seu consumo seja quatro a cinco vezes superior ao da população que não os consome, sendo ainda mais elevado em idosos e/ou indivíduos com antecedentes de úlcera.

Existem poucos estudos em Portugal sobre as complicações gastrintestinais associadas ao consumo de anti-inflamatórios, mas, nos Estados Unidos, estima-se que cerca de 20 milhões de americanos sofrem de úlcera pelo menos uma vez ao longo da sua vida.

Sintomas

As queixas mais comuns da úlcera gástrica são dores abdominais descritas como uma queimadura que ocorrem duas a três horas após as refeições. As dores tendem a ser piores quando o estômago está vazio e podem acontecer durante a noite. Melhoram com o uso de antiácidos e com a ingestão de alimentos.

Os doentes com esta patologia referem também dificuldade nas digestões, náuseas, vómitos, perda de apetite e de peso. Nos casos mais graves, em que a úlcera progride e perfura a parede do estômago, as dores são muito mais intensas, acompanhadas de rigidez abdominal e de perda de sangue no vómito ou pelas fezes. Estas situações constituem urgências médicas e requerem cuidados hospitalares imediatos.

Causas

As paredes do estômago estão habitualmente protegidas dos efeitos do ácido normalmente presente nesse órgão e que é essencial para o processo digestivo. Se essa proteção for afetada pode formar-se uma úlcera no estômago.

Uma das causas mais comuns é a infeção por Helicobacter pylori, que enfraquece a barreira protetora do estômago. Estima-se que esta bactéria provoque cerca de 20% dos casos de úlcera gástrica.

O consumo prolongado de anti-inflamatórios afeta também as defesas da parede do estômago e é uma origem muito frequente de úlcera. Existem pessoas mais suscetíveis ao efeito desses medicamentos sobre o estômago. Também os anti-agregantes plaquetários podem provocar este quadro. O abuso do álcool e a radioterapia podem igualmente associar-se a úlcera gástrica.

Existem fatores de risco para o seu desenvolvimento, como a presença de história familiar, idade avançada, dor crónica pelo uso prolongado de anti-inflamatórios, diabetes, tabaco, café e stress crónico. No entanto, existe alguma controvérsia em relação ao papel do stress na úlcera, não sendo consensual a sua responsabilidade nesta doença.

Diagnóstico

O diagnóstico da úlcera gástrica baseia-se no exame médico e em testes complementares como a endoscopia. Durante a sua realização, é habitual serem recolhidos pequenos fragmentos de tecido para outros exames. A essa colheita dá-se o nome de biópsia.

Existem análises específicos para detetar a infeção por Helicobacter pylori. Um deles é o teste respiratório, muito simples e fiável.

Tratamento

O tratamento implica a eliminação da sua causa, o controlo da lesão e das suas potenciais complicações, e a prevenção de novos episódios.

Existem medicamentos indicados para o alívio das queixas associadas à úlcera e fármacos capazes de eliminar a infeção por Helicobacter pylori. A cirurgia pode ser necessária em casos mais complicados e as alterações no estilo de vida e na dieta são importantes para alívio dos sintomas e para evitar úlceras futuras.

Os medicamentos mais utilizados são os antiácidos, que aliviam as dores associadas a esta doença mas que não a tratam, os inibidores da bomba de protões e os inibidores dos recetores H2, que reduzem a produção de ácido, alguns antibióticos são também eficazes na eliminação do Helicobacter pylori. Muitas vezes, é necessário combinar vários destes fármacos para se conseguirem bons resultados.

A dieta é importante na recuperação e na prevenção das úlceras gástricas. Ela deve incluir alimentos ricos em fibras, como frutas e vegetais. A maçã, cebola, alho e chá podem ajudar a inibir o crescimento do Helicobacter pylori. Os alimentos picantes tendem a agravar os sintomas da úlcera, pelo que devem ser evitados. O tabaco, álcool, café (mesmo o descafeinado) e bebidas gaseificadas devem ser reduzidos porque aumentam a produção de ácido no estômago. 

O exercício físico é igualmente um bom componente do tratamento e da prevenção da úlcera gástrica e de muitas outras doenças. Finalmente, é importante aprender a gerir o stress.

 

Qual o prognóstico da úlcera gástrica?

De um modo geral, com o tratamento adequado, a maioria das úlceras cicatriza
de seis a oito meses. Contudo, podem ocorrer recaídas, sobretudo se o
Helicobacter pylori não for eliminado.

As complicações, como a hemorragia, a perfuração ou a obstrução intestinal,
são raras mas potencialmente muito perigosas. As hemorragias ocorrem em
cerca de 15% dos doentes com úlcera. A obstrução intestinal resulta de
cicatrizes que se formam nas zonas inflamadas e que podem originar apertos
que impedem a passagem dos alimentos. Esta complicação é mais comum nas
úlceras do duodeno.

Por outro lado, a presença de úlceras associadas ao Helicobacter pylori
aumentam o risco de cancro do estômago, o que reforça a importância de um
diagnóstico e tratamento precoces e adequados.

Prevenção

A prevenção passa pelo controlo de todos os fatores de risco. No caso dos anti-inflamatórios, se eles forem indispensáveis, devem-se utilizar também medicamentos protetores do estômago.

Fontes

University of Maryland Medical Center, Out. 2011

Cremers, M. I., Hemorragia digestiva alta por úlcera péptica em doentes de alto risco: O que há de novo? J Port Gastrenterol. 2009, 16 (3): 98-100

Sociedade Portuguesa de Endoscopia Digestiva

Couto, G. e col., Hemorragia digestiva alta associada ao consumo de ácido acetilsalicílico e de anti-inflamatórios não-esteroides em Portugal. Resultados do estudo PARAINES, J Port Gastrenterol. v.17 n.5 Lisboa set. 2010

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