Exercício físico: tome-o como um medicamento

As semelhanças entre a prática de exercício físico e tomar um medicamento não são coincidência. Tal como os fármacos, o exercício tem benefícios para a saúde.

Comprimido ao acordar, comprimido ao jantar e ainda outro ao deitar... Imagine o que seria juntar tudo isto em apenas um só comprimido. Comprimido este que, além de eficaz, faz-se acompanhar de bons momentos de convívio e de uma generosa dose de bem-estar. Pois bem, falamos de exercício físico! Se pudesse ser comprado como um comprimido, certamente seria o mais prescrito e o mais benéfico em todo o mundo.

 

Prescrição de exercício físico

Mas, afinal, como tomar este medicamento? A prescrição de exercício físico consiste num desafio interessante, em muito similar à prescrição de fármacos. Há horas mais favoráveis para a sua administração, deve seguir a posologia mais adequada para cada indivíduo, tem indicações específicas e também algumas contraindicações. Então, vejamos: existe uma clara diferença entre o necessário para tratar uma dor de cabeça e o necessário para tratar uma pneumonia. De igual forma, o exercício mais benéfico para um indivíduo com osteoporose consiste em exercícios de força, com efeitos não só a nível muscular, mas, principalmente, a nível do aumento do conteúdo mineral ósseo. Já o tipo de exercício físico mais indicado para a perda de massa gorda, por exemplo, compreende exercícios de intensidade elevada.

 

Que tipo de exercício "tomar"?

Se comparamos o exercício a um medicamento, certamente pensarão em algumas contraindicações. Em boa verdade, as contraindicações absolutas para a prática de exercício são muito poucas. No entanto, os exercícios não devem ser todos utilizados de forma indiscriminada. Se a corrida pode ser utilizada como excelente ferramenta para a perda de massa gorda, por outro lado, deve ser evitada nos casos de artropatia do joelho. O organismo reage ao exercício de diferentes formas, umas positivas, outras negativas, pelo que é fundamental conhecer a “forma de administração” mais indicada para cada caso.

 

Posologia indicada

E qual a melhor forma de tomar este medicamento? No que respeita à posologia, esta é sempre indicada de acordo com o "objetivo do tratamento". Por exemplo, um exercício para um indivíduo hipertenso deverá ser realizado pelo menos três vezes por semana, com uma intensidade média, e deverá ter uma duração de, no mínimo, 25 minutos.

 

Duração do tratamento

Quanto à duração do tratamento, no exercício físico esta é essencial e, à semelhança da administração continuada de medicamentos, o aspeto mais difícil de respeitar. Quando se planeia um programa de aumento da massa muscular, não devemos esperar resultados visíveis antes de dois ou três meses de treino. É sabido que o músculo apenas “cresce” após semanas longas de estímulo. O problema surge ao final de um mês de treino, quando as pessoas não verificam nenhuma melhoria na sua musculatura e acabam por abandonar o treino. E este período de espera, já previsível, deve ser explicado por quem prescreve o exercício, da mesma forma que é feito quando se prescreve um medicamento.

 

Possíveis interações

É bem conhecida a interação entre medicamentos que diminuem ou potenciam a ação de outros. No exercício físico verifica-se o mesmo. Se um exercício de elevada intensidade antecipar um treino de técnicas muito exigentes, certamente a fadiga irá interferir na coordenação neuromuscular e, desta forma, na execução do gesto técnico. Um outro exemplo clássico é a interferência do exercício intenso ao final do dia, ou até mesmo à noite, com a qualidade do sono.

 

Como o corpo reage 

Se, na sequência deste raciocínio, pensarmos que lemos a "bula do exercício", certamente nos deparamos com as precauções especiais. De facto, quando atuamos sobre o nosso corpo, seja com medicamentos, seja com o exercício, ele reage. E reage de forma variada entre diferentes grupos de pessoas, pelo que, no momento da prescrição, devem ser tidas em conta as particularidades e até mesmo as patologias de cada indivíduo. Se for hipertenso deve evitar a Manobra de Valsalva, se é diabético não deve fazer exercício quando, em jejum, a sua glicemia se encontra acima dos 250 mg/dl, etc.

 

Comunicar com o médico e treinador

De igual forma, é também fundamental reportar dados relevantes: se começou um treino diferente, usou uma máquina nova ou até alterou em algum aspeto a sua alimentação e surge uma sensação fora de comum, fale com o seu treinador e o seu médico assistente. Tal como faz em relação aos medicamentos.

 

Moderação é essencial

Por vezes, quando o entusiasmo é grande, verificam-se alguns casos de sobredosagem. Se tomar mais de 4 g de paracetamol por dia, os seus efeitos podem ser graves para o organismo, assim como se praticar exercício físico de forma excessiva e insaciável, isso poderá ter graves consequências. Este é um erro frequente quando se procuram resultados rápidos. A recuperação entre os treinos é essencial! "Ouvir o corpo", saber parar e descansar são medidas decisivas para o sucesso de um plano de exercício.

Posto isto, e assinando a receita deste medicamento, não desperdice o exercício, ele pode ser-lhe muito útil quando usado na posologia correta, tal como qualquer medicamento!

Publicado a 06/08/2014