Quando um bebé nasce prematuro

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Gravidez
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Em Portugal, 8% dos bebés nasce prematuro, o que exige cuidados médicos redobrados e gera angústia nos pais, que vêem os seus planos de família adiados.

O nascimento de um filho é sempre um momento ansiado pelos pais, que idealizam cada minuto, do primeiro encontro à chegada a casa. Contudo, este plano pode ser alterado, por exemplo, quando o bebé nasce prematuro. Foi o caso de Adrien, filho de Ana Cláudia e de João Pedro, que nasceu às 34 semanas de gestação - curiosamente, no Dia Mundial do Prematuro, a 17 de novembro. Segundo nos conta a mãe, o nascimento do bebé foi uma surpresa: "Vim à CUF a uma consulta de rotina e, nesse dia, não estava a sentir o Adrien. Fiz um CTG e a doutora disse-me que algo não estava bem, que tinha de ser internada e que o Adrien tinha de nascer. Ele nasceu de urgência, de cesariana, e foi logo para a incubadora".



O que é um bebé prematuro

"Como definição, prematuro é um bebé que nasce antes das 37 semanas de gestação", explica Cristina Matos, pediatra, responsável pela Unidade de Neonatologia do Hospital CUF Descobertas, ressalvando, no entanto, que existem vários tipos de prematuridade:

  • Extremos prematuros: bebés que nascem antes das 28 semanas de gestação
  • Grandes prematuros: bebés que nascem abaixo das 32 semanas de gestação
  • Prematuros intermédios: o nascimento dá-se entre as 32 e as 34 semanas de gestação
  • Prematuros tardios: nascem entre as 34 e as 36 semanas de gestação

Segundo explica a médica, "há a ideia de que o prematuro é só um bebé mais pequenino e com menos peso, mas a realidade não é só essa. São bebés que nascem com imaturidade de órgãos e sistemas".

 

As causas da prematuridade

Apesar de 50% dos casos de nascimentos prematuros terem causa desconhecida, há alguns fatores identificados que podem ser associados a esta condição:

  • Idades extremas maternas. Por exemplo, uma jovem adolescente abaixo dos 17 anos ou uma mulher acima dos 35 anos têm maior risco
  • Ter um parto prematuro anterior
  • Quando a mãe tem uma infeção (por exemplo: infeção urinária, infeção ginecológica, infeção do líquido amniótico)
  • Existência de alguma doença, nomeadamente diabetes ou hipertensão arterial
  • Restrições de crescimento fetal
  • Procriação medicamente assistida
  • Gemelaridade

 

Sabia que...

A CUF tem uma Unidade de Neonatologia onde pode receber bebés prematuros com idade gestacional maior ou igual às 32 semanas, alinhado com o que está no decreto de lei dos hospitais privados.

 

O dia do nascimento

Quando souberam que o seu filho teria de nascer mais cedo, com aproximadamente oito meses de gestação e apenas dois quilos, foram muitos os medos que tomaram de assalto Ana Cláudia e João Pedro: "Ele vai nascer prematuro. O que é que isso significa? O que é que vai implicar? O que é que vai acontecer a seguir?".

Tal como explica a pediatra Cristina Matos, "quanto mais prematuros forem os bebés maiores serão os níveis dos cuidados e mais tempo estarão internados nas unidades" até que estejam "preparados para viverem independentes de todas as máquinas e de todos os apoios". Sofia Pereira, enfermeira responsável pela Unidade de Neonatologia do Hospital CUF Descobertas, acrescenta que "todos os bebés, quando nascem, requerem cuidados. Um bebé prematuro requer o dobro ou triplo da nossa disponibilidade. E o cuidado vai muito além da técnica. O cuidado é, como nós dizemos, uma parceria entre nós e a família".

 

As rotinas dos pais

Adrien ficou internado dez dias, enquanto a mãe teve alta quatro dias após o parto. Esta situação levou a que os pais tivessem de adaptar as suas rotinas. "A Unidade de Neonatologia passou a ser a minha segunda casa", afirma Ana Cláudia. O pai, João Pedro recorda que os dias eram passados quase sempre da mesma forma: "Vínhamos para a CUF por volta das 8h30/9h e íamos embora à meia noite, 1h da manhã. A saída era difícil. Tínhamos a possibilidade de cá ficar, mas nunca nos aconselharam porque depois não conseguíamos dar ao Adrien um acompanhamento rentável".

"A alta da mãe e o bebé ficar internado é sempre um dia muito intenso para aquela família", explica a enfermeira Sofia Pereira. "Tentamos criar um ambiente o mais seguro e saudável possível para o processo de transição para a parentalidade e para o desenvolvimento daquele recém-nascido, tentando minimizar todos os efeitos negativos que qualquer internamento tem. Portanto vamos adotando estratégias, como o ligar a qualquer hora ou tirar uma fotografia e deixar para os pais no dia seguinte".

 

Ter uma equipa clínica de confiança é crucial

Quando os pais têm de deixar o seu filho ao cuidado de terceiros, neste caso, de uma equipa de médicos e enfermeiros, é fundamental que haja uma forte relação de confiança. A opinião dos pais de Adrien é unânime: "Mostraram-nos confiança. Nós íamos embora e ele ía ficar ali, mas ía correr bem, ele estava a ser bem tratado".

"Num bebé prematuro o papel parental é antecipado e, muitas vezes, é feito de uma forma pouco estruturada e é na equipa que cuida desse bebé e dessa família que os pais vão buscar o apoio. Há sempre uma grande vinculação entre os pais e a equipa que os acompanha naquele processo", explica a enfermeira Sofia.

 

Melhorias passo a passo

Na Neonatologia, as conquistas que se fazem não ocorrem de dia para dia, mas de hora a hora. Para os pais, ver que o seu bebé estava a melhorar foi muito encorajador: "A cada dia que passava, parecia que o Adrien crescia. Primeiro, tiraram-no da incubadora, meteram-no numa cama; depois, tiraram-lhe a sonda; de repente, já estava noutra sala, pronto para ir para casa. Cheguei à CUF um dia de manhã e disseram-me ‘vá a casa buscar as coisas do bebé, porque ele vai-se embora’".

Normalmente, os bebés prematuros estão aptos para ir para casa quando já estão autónomos e não necessitam de cuidados diferenciados, sendo importante não generalizar; cada bebé é um bebé, como explica a médica Cristina Matos.

 

O que é preciso para ter alta

Há critérios que estão estabelecidos para determinar se um bebé prematuro pode receber alta:

  • Tem estabilidade térmica, não precisando de estar na incubadora nem de uma fonte de calor
  • Está estável do ponto de vista respiratório. Ou seja, respira ar ambiente, não precisando de um meio enriquecido com oxigénio
  • Sabe mamar bem, ou seja, tem autonomia alimentar. No início, os prematuros não o sabem fazer, pois não têm o reflexo de sucção ainda desenvolvido (normalmente é desenvolvido a partir das 34 semanas). São alimentados através de uma sonda que vai até ao seu estômago e onde é dado o leite da mãe

"Quando eles já têm autonomia completa e os pais estão capacitados para uma alta segura, o bebé está preparado para ir para casa. Normalmente, damos sempre alta quando o bebé já tem mais de 1800 g e estas características de estabilidade", esclarece Cristina Matos.

 

A chegada do bebé a casa

Quando recebem a notícia de que já podem levar o seu bebé para casa, embora seja positivo, Ana Cláudia confessa que é um acontecimento que gera alguns receios. Contudo, mesmo fora do hospital, esta família continuou a ter o apoio da equipa de enfermeiros e médicos da Unidade de Neonatologia: "Caso tivesse alguma dúvida ou estivesse a acontecer alguma coisa ao Adrien, ligava-lhes, que imediatamente me diziam ‘não se preocupe’ ou ‘se calhar, tem de vir aqui’. Foi um acompanhamento, quer aqui, quer em casa, para o qual não tenho palavras e que agradeço do fundo do coração".

Publicado a 17/11/2019