Aprenda a reconhecer o melanoma

Cancro
Pele, unhas e cabelo
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O diagnóstico precoce pode fazer toda a diferença no tratamento do cancro da pele, o mais frequente e letal dos cancros. Saiba como reconhecer o melanoma.

O cancro da pele é o cancro mais frequente da raça humana e tem origem nas células que constituem o tegumento cutâneo. Existem muitos tipos de cancro da pele. Em termos práticos, são divididos em dois grandes grupos:

 

1. Melanoma maligno

O melanoma maligno, doença do foro oncológico cada vez mais frequente e potencialmente letal, tem origem nas células do sistema de pigmentação da pele, isto é, nas células (melanócitos) que produzem o bronzeado após a exposição ao sol. Em casos raros, o cancro pode ter origem nestas células nos olhos, nas vias respiratórias, no intestino, no cérebro e em mucosas.

É um tipo de cancro dos mais graves e as hipóteses de sobrevivência dependem, sobretudo, de um diagnóstico e tratamento adequado e precoce. Um diagnóstico e uma excisão cirúrgica precoce em melanomas in situ ou na sua fase inicial de invasão são geralmente curativos na maioria dos pacientes.

O principal desafio que os clínicos enfrentam é a deteção e excisão precoce do melanoma, sendo o fator de prognóstico mais importante a espessura do tumor. Mesmo com os avanços no campo da quimioterapia e imunoterapia, o sucesso no tratamento do melanoma no seu estadio avançado continua limitado e o prognóstico da sua forma metastizada é muito reservado.

 

2. Não melanoma

Este grupo inclui o carcinoma basocelular ou basalioma e o carcinoma espinocelular. São habitualmente menos perigosos, mas podem ter mau prognóstico se não forem tratados precocemente.

O cancro da pele pode atingir pessoas de todas as idades, sendo mais frequente nos doentes mais velhos. Todavia, as pessoas que estão expostas a grandes quantidades de radiação solar podem desenvolver cancro tão precocemente quanto os 20/30 anos.

 

Melanoma maligno à lupa

O melanoma é o cancro da pele mais perigoso e um dos tumores malignos mais agressivos da espécie humana. O melanoma resulta da transformação maligna dos melanócitos, células que se localizam nas camadas mais profundas da epiderme onde produzem o pigmento, denominado de melanina, que confere a tonalidade castanha à pele.

O melanoma maligno pode surgir de novo na pele sã de qualquer parte do corpo (70% dos casos), ou sobre sinais pré-existentes, denominados de nevos pigmentados (30% dos casos). Hoje em dia sabe-se que o melanoma maligno está associado na maioria dos casos à exposição solar intermitente, aguda e intempestiva, muitas vezes acompanhada de queimaduras solares.

 

Qual a incidência do melanoma?

Os melanomas representam 5% de todos os tumores malignos diagnosticados de novo em homens. A sua incidência tem aumentado sendo, atualmente, da ordem dos três a oito casos por 100.000 habitantes por ano. Como exemplo desta tendência temos os Estados Unidos, onde o risco de um indivíduo desenvolver um melanoma invasivo durante a sua vida era de um em 75 em 2010.

 

O panorama em Portugal

Em Portugal, observa-se o aumento da incidência dos cancros de pele, os quais, em mais de 90% dos casos, estão relacionados com um passado de exposição exagerada ao sol. Atualmente, estima-se que em Portugal, a cada ano, a incidência de melanoma seja de oito novos casos por cada 100 mil habitantes, ou seja, cerca de 100 novos casos por ano.

 

Em que partes do corpo surge o melanoma?

A localização mais frequente do melanoma é:

  • No sexo masculino: tronco, em particular no segmento superior do dorso
  • No sexo feminino: pernas e segmento superior do dorso
  • Em indivíduos de raça negra e asiática: regiões palmares, plantares, unhas e mucosas

 

Quais são as causas do melanoma?

Estima-se que 80% dos cancros da pele sejam originados pela exposição solar intensa. A doença é geralmente desencadeada pela lesão dos constituintes da pele causada pelo sol, principalmente quando ocorrem queimaduras solares (escaldão). Um pequeno número de casos pode estar associado a fatores hereditários. Os solários podem também ser causa de cancro da pele e fotoenvelhecimento prematuro cutâneo.

 

Os principais fatores de risco

Vários estudos epidemiológicos mostraram que a exposição ao sol é o principal fator de risco para o aparecimento do melanoma. Por este motivo as medidas preventivas em relação à exposição ao sol são recomendadas. A exposição à radiação ultravioleta no início da vida deve ser reduzida.

Outros fatores de risco para o desenvolvimento do melanoma cutâneo passam por:

  • Características da pigmentação cutânea (olhos azuis, cabelo loiro, claro ou ruivo, pele clara)
  • Resposta à exposição solar (tendência para formar sardas, incapacidade em bronzear, tendência para queimaduras solares)
  • Grupo socioeconómico superior
  • História familiar de melanoma (10-15% dos pacientes com melanoma)
  • Mutação nos genes Braf e p16
  • Nevos prévios (nevos melanocíticos - um terço dos melanomas surgem em nevos preexistentes -, nevos displásicos, nevos que se alteram, nevos congénitos)
  • História prévia de melanoma
  • Imunossupressão

 

Reconhecer o melanoma

A cor dos melanomas pode variar entre o castanho ou preto, azul ou mesmo laranja. Os melanomas são, habitualmente, assimétricos, com bordos irregulares, de cor não uniforme e diâmetro superior a 6 mm. A pele em redor do sinal pode apresentar feridas, crostas ou vermelhidão. O tumor pode assemelhar-se a uma "bolha de sangue" e pode dar comichão ou dor.

Atualmente, os Dermatologistas têm acesso a equipamentos de imagem (dermatoscopia digital e microscopia confocal in vivo) que permitem um diagnóstico mais sensível, o que contribui para uma melhoria das taxas de cura.

 

Os sinais de alarme são:

  • Sinal preexistente que muda de cor, tamanho ou forma ou que começa a sangrar
  • Aparecimento de feridas, que curam muito lentamente
  • Sinal que se torne anormalmente grande
  • "Bolhas de sangue" que apareçam sob as unhas e que não tenham resultado de uma agressão
  • Aparecimento de um sinal novo, principalmente após os 40 anos, que apresente uma forma irregular ou uma cor anormal
  • Aparecimento de comichão ou ardor num sinal pré-existente

 

Nevo normal vs. melanoma

Um nevo normal (ou sinal) tem uma coloração igualmente distribuída de cor castanha, cor de pele ou preto e pode ser plano ou ligeiramente elevado. Pode ser redondo ou oval. Geralmente, têm uma dimensão inferior a 6 milímetros em diâmetro.

Um nevo pode aparecer durante a infância ou no início da adolescência. Vários nevos podem aparecer ao mesmo tempo, especialmente em áreas da pele expostas ao sol. Os nevos permanecem do mesmo tamanho, forma e cor ao longo de muitos anos, por vezes, desaparecendo em indivíduos idosos.

A maioria das pessoas tem nevos e a grande parte deles são inofensivos, mas é extremamente importante reconhecer mudanças em nevos sugestivos de desenvolvimento de melanoma.

 

ABCD

A regra do ABCD pode ajudar a distinguir um nevo normal de um melanoma:

Assimetria: metade do nevo diferente da outra metade
Bordo: os bordos do nevo são irregulares, nodulados e recortados
Cor: a cor sobre o nevo não é uniforme. Pode haver diferentes tonalidades de castanho, preto e por vezes de vermelho, azul e branco
Diâmetro: o diâmetro do nevo é maior que 6 mm

Tanto o doente, ao fazer o autoexame, como o médico que realiza o exame físico objetivo têm de estar atentos, pois existem melanomas que não seguem as regras do ABCD descritas anteriormente. Alguns dos sinais e sintomas importantes adicionais são:

  • Rápido aumento de volume e/ou expansão
  • Reforço da pigmentação
  • Características da superfície, erosões e exsudado sanguinolento
  • Reação inflamatória, dor ou prurido

 

Atenção!

Uma lesão suspeita deve ser sempre vista por um médico dos cuidados primários ou, preferencialmente, por um dermatologista.

 

Como se desenvolve o melanoma?

O melanoma tem potencial para metastizar (disseminar-se à distância a outras partes do corpo) rapidamente. Se o tumor crescer em profundidade e penetrar nos vasos sanguíneos e/ou linfáticos pode provocar a morte em alguns meses ou poucos anos. A evolução varia muito de pessoa para pessoa e parece estar dependente da profundidade que o crescimento do tumor atingiu e das defesas do sistema imunitário e ainda outros fatores.

 

Formas de tratamento

O tratamento do melanoma é cirúrgico. O melanoma tem que ser totalmente removido e com margens de segurança confirmada pelo exame histológico da peça operatória.

Se o tumor não tiver metastizado e se proceder à sua remoção cirúrgica, a cura aproxima-se dos 100% nos melanomas "finos". No entanto, é preciso salientar que estas pessoas necessitam de controlos periódicos, pois correm o risco de desenvolver outros melanomas.

 

Melanomas com metástases

Nos melanomas que já tenham metastizado ou com elevada probabilidade de metastização, além da cirurgia, podemos ainda recorrer a:

  • Terapêuticas alvo (uso de medicamentos que bloqueiam a proliferação das células tumorais)
  • Imunoterapia (uso de medicamentos que aumentam a resposta imunológica contra as células tumorais)
  • Radioterapia (uso de radiações em doses elevadas e de alta energia para destruir as células cancerígenas)

No entanto, os resultados nestes casos têm baixo índice de cura.

Publicado a 11/06/2014