Já ouviu falar de Christmas blues?

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É um estado de tristeza associado ao Natal, mas os Christmas Blues são muitas vezes o agravamento de sentimentos que já existiam.

Christmas blues (ou, traduzindo, tristeza natalícia) trata-se, na verdade, de um estado de tristeza que existe previamente e que não tem necessariamente de ter um início nesta época; pode ocorrer em qualquer altura do ano. O que pode acontecer é que, estando a altura do Natal associada a momentos de festas, família, alegria, luzes, presentes, balanços e projetos de vida poderá contribuir para o exacerbar de um desânimo que já se arrasta há algum tempo.

 

Como é que se caracteriza esta tristeza? 

É um estado em que a pessoa vivencia uma fragilidade emocional, através de um sofrimento que não é visível e que não deixa marcas físicas, mas que está lá, e que pode causar sentimentos de tristeza, angústia, desânimo, irritabilidade, apatia.

Perante um estado depressivo a pessoa poderá manifestar sintomas como:

  • Humor deprimido na maior parte do dia ou quase todos os dias
  • Acentuada diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades
  • Perda ou ganho significativo de peso
  • Redução ou aumento do apetite
  • Insónia ou hipersónia
  • Agitação ou diminuição a nível psicomotor
  • Fadiga ou perda de energia
  • Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar
  • Indecisão
  • Sentimentos de inutilidade
  • Culpa excessiva ou inapropriada
  • Pensamentos recorrentes relacionados com morte

 

Os fatores que podem favorecer os Christmas blues

Existem situações que nos tornam mais suscetíveis a este estado, nomeadamente contextos de vida marcados por:

  • Perda de pessoas significativas
  • Doença
  • Divórcio
  • Desemprego
  • Acidentes pessoais ou de familiares e amigos
  • Estar institucionalizado por circunstâncias de vida
  • Conflitos e zangas com os amigos ou com familiares
  • Ausência pela distância, que separa familiares por motivos profissionais ou até outros
  • Pressão social devido à excessiva comercialização do natal, com foco nos presentes e nas atividades sociais

 

E o final do ano, também pode favorecer este estado?

A aproximação ao final do ano poderá levar a um confronto da pessoa com o que ficou por resolver na sua vida, devido aos projetos e planos que não foram realizados. O facto de existir o sentimento de que as metas estipuladas não foram cumpridas pode gerar alguma ansiedade e até mesmo um estado de tristeza, uma vez que a pessoa pode sentir-se fracassada a vários níveis.

 

O papel do consumismo natalício

A pressão social para o consumismo - compra dos presentes, preparação da ceia e participação em eventos sociais - pode aumentar o stress e a ansiedade, pelo medo de falhar e de não conseguir realizar tudo, instalando um estado deprimido.

O querer oferecer os presentes idealizados e a impossibilidade de o fazer vem acentuar os sintomas preexistentes, pelo medo de desiludir o outro, esquecendo que o que importa na realidade é o momento de estar juntos.

 

Estratégias para não se sentir triste no Natal

De modo a lidar, reduzir ou eliminar estes sinais e sintomas, poderá ajudar não se obrigar a mudar o seu estilo de vida, deixando de parte rotinas que o deixam feliz, em função das festividades da época e daquilo que é idealizado pelos outros. Poderá sempre criar a sua própria tradição de Natal de acordo com o que lhe faz sentido.

 

É importante também ajustar as expectativas, quebrando as expectativas irrealistas de um natal perfeito e deixar-se envolver e desfrutar de cada momento da melhor forma possível. Experimente organizar programas que permitam combater a tendência para o isolamento e a reduzir os temas de conversas de tonalidade negativa. 

 

Viver a época de natal não significa a anulação de sentimentos; a tristeza, saudade e nostalgia são sentimentos inerentes ao ser humano, pelo que devem ser vividos, respeitados e aceites e integrados no nosso dia-a-dia, de modo a que possamos desfrutar do que existe para além deles.

 

Não compare a sua vida à dos outros

A comparação com o que é suposto, de acordo com as representações de um natal perfeito, muito propagado pelas redes sociais, pelos anúncios de publicidade, mas também pelos que nos são próximos, quando partilham a sua felicidade, o seu entusiasmo e os seus planos, remetendo para um contexto de natal perfeito, pode desencadear o sentimento de frustração, desânimo e a sensação de vazio e não pertença, para quem vive e sente esta época de forma diferente. Isto porque pode levar a que as pessoas comparem a sua vida, colocando-as numa situação de autorreflexão e ruminação excessiva sobre o que se é, sente e tem.

 

Como podem os familiares e amigos ajudar

Pode ser difícil para os mais próximos compreender o que sente quem vivencia estes estados, gerando um sentimento de impotência por não saber como agir, mas é importante procurar respeitar a pessoa na sua diferença.

Poderá ajudar mostrar-se disponível para escutar a pessoa que manifesta este estado de espírito e tentar compreender que não há disponibilidade para estas festividades e celebrações, por isso não as devemos impor e sim apoiar as suas decisões e vontades, tentando reduzir discursos autodepreciativos e, sobretudo, mostrar o quanto é importante e especial e que não está só.

 

Quando procurar ajuda médica

Este problema não se resolve com o fim da época natalícia. Mesmo que suscite a sensação de que este estado se atenua, o mesmo irá persistir - e até mesmo agravar - caso não recorra a ajuda profissional. Nesse caso, poderá interferir nas atividades do dia a dia, assim como na esfera pessoal, familiar, social e profissional, podendo causar grande sofrimento. A especialidade de Psicologia é a mais indicada para se poder atuar a nível dos problemas psicológicos e emocionais que a pessoa apresenta e ajudar na tomada de consciência do que origina os seus problemas, na promoção de mudanças, pessoais e de comportamento, no domínio de um autoconhecimento maior, assim como no restabelecimento da sua capacidade de gerir e confrontar, de modo autónomo, os desafios que a vida nos apresenta. Perante o agravamento de sintomas é importante recorrer à especialidade de Psiquiatria.

Publicado a 12/12/2019
Doenças