O que significa a dor no coração na infância?

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Pode surgir na prática de exercício físico ou em repouso e assusta os pais. Saiba o que significa a dor no coração e quando consultar um médico.

A principal causa que leva os pais a uma consulta de cardiologia pediátrica é o facto de o médico assistente dizer que a criança tem um sopro. Logo a seguir são as dores no peito, a "dor no coração". No peito há muita coisa que pode doer, mas a maioria das pessoas pensa erradamente que a culpa é do coração. As causas desta dor podem, na verdade, ser muitas e não ter nada que ver com o coração.

 

Perfil do doente e da dor

Em geral trata-se de um rapaz, pré-adolescente, magro, desportista e saudável, bom aluno e um pouco ansioso. A dor é real, aguda, tipo pontada, localizada ao centro do peito, sobre o esterno. É uma dor moderada e que muitas vezes dificulta a inspiração, daí que também é referida como "falta de ar". Costuma durar poucos minutos e, assim como veio, depressa passa. Não costuma haver alterações do ritmo cardíaco, a não ser alguma taquicardia porque a criança se assusta e fica ansiosa. A dor pode surgir quer durante o exercício físico, quer em repouso.

 

A dor no coração mais frequente

A dor acima referida é musculoesquelética e tem origem nas articulações entre o esterno e as costelas. O exercício físico intenso, como nadar, andar de bicicleta ou outros (uso de mochilas, por exemplo) podem causar este tipo de dor. Os defeitos de posição, como sentar-se mal ou dormir em más posições também podem facilitar esta dor. Esta é a "dor no coração" que é, sem dúvida, a mais frequente. Uma vez que a criança toma consciência da realidade, aprende a lidar com esta dor, deixa de se assustar, e a sua vida continua. Mas, se quiser, tem aqui um bom motivo que pode render algumas contrapartidas.

Por vezes, as articulações em causa podem mesmo inflamar e levar a uma dor recorrente, podendo haver necessidade de tratamento com anti-inflamatórios.

 

Outros tipos de dor

Mas no peito há mais coisas que podem doer e, felizmente, são muito mais raras. A pele pode doer, mas na criança costuma ver-se a lesão que causa a dor. Os músculos podem doer, sobretudo se pouco treinados e sujeitos a um esforço excessivo.

Dentro do peito há dois sacos membranosos que podem doer: um que envolve os pulmões, a pleura, e outro que envolve o coração, o pericárdio. São compostos por duas camadas, entre as quais existe um pouco de líquido lubrificante, para evitar que estes órgãos se magoem, pois estão permanentemente em movimento.

A pleura pode doer mas, em geral, isto acontece num contexto infecioso pulmonar, com febre, tosse e dificuldade em respirar. As pneumonias são a causa mais frequente deste tipo de dor, mais frequente à direita. O pericárdio, quando inflamado por certas doenças, em geral virais, também dói, uma dor compressiva e constante, que não passa facilmente.

 

Dor no músculo cardíaco

O coração dói, em particular, o músculo cardíaco. Os adultos que tiveram enfarte ou angina de peito sabem como essa dor é forte e angustiante. Em geral, existem problemas com as artérias coronárias que irrigam e alimentam o coração que, ao entupirem, fazem sofrer o músculo cardíaco. A idade, certas doenças (diabetes, colesterol elevado, hipertensão arterial) e outros fatores, em particular o tabaco, são os principais agentes.

 

Anomalias congénitas das artérias coronárias

Na criança estes fatores não existem, no entanto, há situações raríssimas que podem fazer doer o coração nos mais jovens. São anomalias congénitas das artérias coronárias. A dor tipicamente aparece sempre e só no esforço físico ou no bebé que chora, fica pálido e suado sempre que bebe o biberão ou no adolescente que tem dor forte no peito, por vezes, com arritmia cardíaca, quando pratica desporto. Estas situações são muito raras, mas sérias e exigem uma abordagem cuidada.

O aparelho digestivo também pode simular dor no peito mas, em geral, as esofagites ou hérnias do hiato dão mais dor nas costas. Muito ar no cólon ou no estômago pode dar desconforto na parte inferior do peito.

 

Dor em caso de doença

A dor no peito referida anteriormente tinha em consideração apenas crianças saudáveis, contudo, há crianças com doenças crónicas, quer generalizadas, quer localizadas ao próprio coração ou aos pulmões, que podem ter dor no peito. Estas situações, uma vez identificadas, são discutidas com o médico assistente e os pais, que ficam assim mais esclarecidos das complicações que a doença do seu filho pode dar.

 

Concluindo: o que significa a dor no coração?

A dor no peito, de longe a mais frequente, é uma dor tipo musculoesquelética, benigna, cujo tratamento principal consiste em acalmar e dar segurança à criança, ensinando-a a lidar com esse tipo de dor. Deve dar-se-lhe atenção, mesmo (ou sobretudo) sendo só isso o que ela quer. Isto também dá uma certa segurança aos pais. Não cabe aqui aos progenitores lembrarem-se dos seus pais que faleceram por causa do coração. Quase de certeza não é isso que se passa com os seus filhos enquanto não forem avós.

 

Quando ir ao cardiologista pediátrico

É o médico assistente que deve considerar se o estudo deve passar pelo cardiologista pediátrico ou não. Não devem ser os pais a decidir isso e a levar logo a criança "com dor no coração" ao cardiologista pediátrico ou mesmo às urgências.  A criança tem um médico que a conhece e deve ser ele a decidir o que fazer e como fazer. Há tempo para resolver as coisas da melhor maneira.

Publicado a 01/08/2014