É verdade que o coração não dói?

Coração
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Dizer que o coração não dói é um mito que erradamente é repetido. O coração dói e qualquer queixa de dor súbita pode ser um sinal de enfarte do miocárdio.

O enfarte agudo do miocárdio (vulgarmente conhecido como "ataque cardíaco") é uma verdadeira emergência médica. O normal funcionamento do coração é uma condição fundamental à vida, que só é possível se o músculo cardíaco estiver adequadamente alimentado.

 

O que acontece ao coração durante um enfarte de miocárdio?

A irrigação do músculo cardíaco é feita pelas artérias coronárias e se qualquer uma entupir de forma súbita com gordura e/ou coágulos, o músculo não recebe nutrientes e oxigénio nas quantidades que necessita. Ao fim de poucos minutos sem receber sangue as células começam a sofrer (processo que designamos por isquemia) e, finalmente, em muito poucas horas, as células começam a morrer (ocorrência que designamos por fibrose).

Se atempadamente tratada, a isquemia pode ser reversível, mas uma vez que se instale fibrose a condição é irreversível, pois o nosso organismo não tem a capacidade de regenerar o músculo cardíaco morto.

 

Qual a incidência na população portuguesa?

Em Portugal são internadas anualmente cerca de 12 mil pessoas por enfarte agudo do miocárdio, com maior volume de internamentos nos meses de inverno e com um pico tradicional no mês de dezembro.

 

Como saber se está a ter um enfarte de miocárdio?

Um dos grandes mitos que erradamente são repetidos e que importa esclarecer é a frase: "o coração não dói". Errado. O coração dói, e qualquer queixa de dor súbita desde o umbigo até ao maxilar inferior e desde a parte anterior do tórax até às costas, incluindo os dois braços, pode corresponder à apresentação clínica do enfarte do miocárdio. Qualquer dor súbita nesta grande área anatómica pode corresponder a isquemia cardíaca, sendo mais provável se a dor for localizada na zona da mama esquerda, que os anatomistas chamam de precórdio.

 

Como surgiu o mito de que o coração não dói?

O conceito errado que o coração não dói deriva que algumas pessoas que são internadas por enfarte do miocárdio nunca percecionam dor, podendo descrever "aperto", "peso" ou “mal-estar" torácico. Existem também manifestações mais atípicas, como fraqueza geral, náuseas, vómitos, sudação, desmaio ou taquicardia. Em pessoas com compromisso da função sensorial do sistema nervoso (os diabéticos são o exemplo mais frequente) são mais frequentes estas apresentações clínicas mais subtis e atípicas.

No limite é ainda possível sofrer um enfarte do miocárdio sem qualquer sintoma (isquemia silenciosa), mas essa não é claramente a regra.

 

Sobreviver a um enfarte de miocárdio

É comum a ideia de que dificilmente se sobrevive a um enfarte de miocárdio ou que este deixa grandes sequelas.

No inicio da década de 90, em Portugal, 44% das pessoas morriam por causa cardiovascular, mas as medidas estratégicas preventivas e a melhoria dos diagnósticos e tratamentos nas áreas do enfarte do miocárdio e do acidente vascular cerebral (AVC) permitiram, em 2015, reduzir esse valor para 29,7%.

Cerca de 35 mil portugueses morrem anualmente por doenças cardiovasculares, que continuam a ser a principal causa de morte, e destes cerca de mil são por enfartes do miocárdio. 

Perante sintomas sugestivos de enfarte do miocárdio, é essencial recorrer de imediato a serviços médicos. As sequelas serão tanto menores quanto mais rapidamente forem instituídos os tratamentos.

O diagnóstico baseia-se na avaliação clínica, no eletrocardiograma e análises ao sangue.

O tratamento passa pela desobstrução emergente da artéria coronária que esteja afetada, pela medicação com fármacos que inibem a cascata da coagulação e agregação de plaquetas e pelo suporte de todas as funções cardíacas que estejam afetadas, quer mecânicas, quer elétricas.

 

Que hábitos devemos adotar para prevenir enfartes de miocárdio?

  • Deixar de fumar
  • Realizar exercícios aeróbicos (caminhar, nadar, andar de bicicleta) durante 30 minutos diários em cinco dias da semana
  • Reduzir os níveis de stress
  • Adotar uma dieta saudável, pobre em gorduras saturadas e rica em fruta, vegetais e cereais
  • Manter um peso adequado
Publicado a 10/05/2018